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A lista vai de Ray Charles a Amy Winehouse. São discos que marcaram época e que até hoje traduzem o melhor da música negra
Das baladas doloridas às melodias ensolaradas, a soul music é um vasto terreno com origem na música gospel que foi ganhando registro na forma de singles, muito mais do que em álbuns completos. Porém, com o sucesso de alguns artistas e suas gravadoras – Otis Redding e Isaac Hayes, na Stax, em Memphis, ou Stevie Wonder e Marvin Gaye, na Motown, em Detroit, o gênero rendeu discos que se tornaram verdadeiros clássicos.
A obra desses astros pavimentou o caminho para a música negra moderna e influenciou o pop produzido nas décadas seguintes. Prince, Outkast e até Gnarls Barkley são alguns exemplos. No rap, o soul encontra eco nos trabalhos das cantoras Erykah Badu e Lauryn Hill – isso sem falar na extensa gama de bases sampleadas por inúmeros grupos.
Recentemente, uma série de novos artistas ressuscitou o gênero com todo o louvor merecido. Depois do surgimento de Amy Winehouse e seu Back to black, ganharam destaque a banda Eli “Paperboy” Reed and The True Loves, com Roll with you, e ainda o compositor, produtor e arranjador Raphael Saadiq, que lançou no ano passado o disco de inéditas The way I see it.
A lista abaixo, com 10 álbuns essenciais para entender o soul, é uma introdução ao gênero e propõe obras indispensáveis na discoteca básica do ouvinte. Para fazer a lista, o site G1 contou com as informações do guia Soul and R&B, de Peter Shapiro, e com a consultoria do jornalista Filipe Luna.
Ray Charles – Modern sound in country and western music 1 e 2 (1962)
Ray Charles pode ser considerado o artista responsável por dar forma ao soul como o gênero viria a ser consagrado nos anos 60. Foi ele quem levou a sonoridade da igreja para a música, popularizando o esquema “call and response” (“chamado e resposta”) em suas canções. É dele também uma das faixas fundamentais do soul: What'd I say, de 1959, traz a receita original do estilo. Na série Modern sounds in country and western music, o cantor e pianista cego explora outras sonoridades, como o próprio título já entrega, mas ainda conserva a pegada que o imortalizou. Os álbums reúnem clássicos como You don’t know me e I can’t stop loving you.
James Brown – Live at the Apollo (1963)
Dono de muitos apelidos, de padrinho do soul a Mr. Dynamite, nenhum outro artista do gênero teve a energia de palco de James Brown. Justamente por isso o disco que melhor o representa é Live at the Apollo, uma série estonteante gravada ao vivo no famoso teatro de Nova York. Ao longo dos três álbuns, o músico demonstra, hit após hit – I'll go crazy, Try me, Think, Please please please, I don't mind, Night train, só para citar alguns – toda a sua capacidade musical. A reação incendiada da plateia não deixa dúvida disso.
Otis Redding - Otis Blue: Otis Redding sings soul (1966)
Um dos mais influentes cantores de soul dos anos 60 teve uma curta carreira cujo auge se deu no terceiro álbum. Otis Redding sings soul foi lançado um ano antes de sua morte, aos 26. Sua obra foi suficiente para que Redding ganhasse o respeito de bandas como os Rolling Stones, que gravaram duas canções suas:That's how strong my love is e Pain in my heart. Em retribuição, o cantor lançou neste álbum uma elogiada versão de (I can’t get no) Satisfaction. Entre outros covers clássicos estão A change is gonna come (Sam Cooke) e My girl(composição de Smokey Robinson que se tornou sucesso na voz do grupo Temptations).
Aretha Franklin - I never loved a man the way I loved you (1967)
A cantora, compositora e pianista não poderia ser chamada por uma alcunha diferente da de “lady soul”. Suas raízes gospel datam da época em que começou a cantar, ao lado das irmãs, na igreja de seu pai, o reverendo C.L. Franklin, na Detroit dos anos 50. Na verdade, suas primeiras gravações foram como cantora gospel aos 14 anos. Ela seguiu lançando singles pela Columbia, mas foi o álbum I never loved a man the way I loved you, já na Atlantic, que revelou toda a paixão e a intensidade que fazem de sua voz algo único. A interpretação de Respect, de Otis Redding, por si só já valeria o disco, mas ele tem outras pérolas como A change is gonna come, de Sam Cooke, nome importante na história do soul.
The Jackson 5 – Diana Ross presents The Jackson 5 (1969)
A banda que revelou o futuro rei do pop Michael Jackson foi o primeiro grupo na história a ter os seus primeiros quatro singles no topo das paradas americanas: I want you back, ABC, The love you save e I'll be there. Jackson e seus irmãos mais velhos – Jackie, Tito, Jermaine e Marlon – se tornaram a grande sensação da gravadora Motown ao lançar seu álbum de estreia, apadrinhado pela estrela Diana Ross. Nele, o grupo interpreta canções de Stevie Wonder (My cherie amour), Smokey Robinson (Who’s lovin’ you), The Corporations (Nobody), entre outros. Traçando um caminho que foi além do soul, o grupo incorporou elementos de doo-wop e bubblegum ao seu repertório, com refrãos cantaroláveis e melodias fáceis.
Isaac Hayes - Hot buttered soul (1969)
Com ajuda dos Bar-Kays como banda de apoio, Isaac Hayes ousou lançar, em 1969, um disco com apenas quatro faixas e muitos minutos de duração. Em sua obra-prima, o dono da voz do Chef da série South Park alterna monólogos sobre o amor ferido e instrumentações inspiradas. Aqui, ele expande o formato da soul music com arranjos orquestrais e metais poderosos, tudo temperado com guitarras cheias de malícia - o complemento perfeito para o seu vozeirão. Hayes, morto em 2008, influenciaria outros artistas: a base de Ike’s Rap III, do discoBlack Moses (outro clássico do cantor, lançado em 1971), aparece em músicas dos ingleses Tricky e Portishead, e até do grupo de rap paulistano Racionais MC's.
Marvin Gaye – What’s going on (1971)
Muito além de ser a obra-prima de Marvin Gaye, What’s going on é considerado um dos discos mais importantes da soul music. O álbum revela a voz ímpar de um artista agora livre da imagem de símbolo sexual do R&B. Se antes ele se sentia encarcerado pela máquina de fazer hits da Motown, agora Gaye pode expressar sinceramente o que o preocupa por meio da música. O tema central da obra é o questionamento sobre o que teria acontecido com o “sonho americano” do passado. Concebido a partir do ponto de vista de um veterano da guerra do Vietnã, o disco versa sobre pobreza, crianças abandonadas, desemprego, a brutalidade da polícia e o uso de drogas.
Al Green – I'm still in love with you (1972)
Al Green foi o primeiro grande cantor de soul dos anos 70. Além de ter incorporado elementos da música gospel à sua obra, pontuada por gemidos selvagens e lamentos, ele é um dos poucos artistas daquela época que ainda mantêm o vigor, a exemplo do álbum Lay it down, um dos melhores de 2008. Em seu disco de 1972, Green não desperdiça uma só faixa: de For the good times, canção de Kris Kristofferson com influência country, à lenta Oh pretty woman, de Roy Orbison – passando, é claro, por todas as suas composições próprias - I’m still in love with you descortina o reverendo no auge da inspiração.
Stevie Wonder - Songs in the key of life (1976)
Dono de um apetite voraz por diversos gêneros musicais, Stevie Wonder, cego de nascimento, ajudou a expandir as barreiras da música negra ao misturar funk, rock, jazz, reggae e elementos africanos em suas composições. O uso de sintetizadores, nos anos 70, mudou a cara do R&B tradicional. Esse imenso leque de interesses ajudou a torná-lo famoso internacionalmente, assim como Ray Charles. Astro da Motown, ele emplacou vários hits ainda na adolescência, mas foi com o LP duplo Songs in the key of life que ele realizou sua obra mais ambiciosa. Amor, relacionamentos, questões sociais e espirituais aparecem acompanhados por uma vasta gama de arranjos, em uma performance que é considerada a melhor de Wonder.
Amy Winehouse - Back to black (2006)
Se existe uma responsável por trazer a soul music para os tempos atuais, esta é a cantora Amy Winehouse. Unindo composições autorais muito menos inocentes do que as do tempo da Motown com o suingue irresistível da banda Dap Kings, a inglesa despontou como uma das artistas mais instigantes dos últimos anos ao lançar seu segundo álbum, Back to black. As letras sinceras e autobiográficas ganharam o acabamento do produtor Mark Ronson, que atualizou o gênero sem deixar que ele perdesse a alma. Pena que Winehouse tenha ganhado mais destaque na mídia pelos quiproquós que protagoniza - quem sabe ela retorne à forma em seu próximo trabalho.
FONTE : WWW.JORNALDOSITE.COM.BR